As
bancadas do PT e PCdoB anunciaram que vão entrar com representação
contra o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) na mesa da Câmara por
quebra de decoro depois que o parlamentar, em discurso na tribuna, nesta
terça-feira (9), atacou a deputada Maria do Rosário (PT-RS) dizendo que
“não estuprava você [Maria do Rosário] porque você não merece”.
Para
Jandira Feghali (PCdoB-RJ), líder da bancada na Câmara, nenhum
deputado, mulher ou homem, pode admitir um comportamento desse tipo.
Para ela, a Casa não pode aceitar que o deputado Jair Bolsonaro se
utilize do microfone e do parlamento brasileiro para “ameaçar de estupro
uma parlamentar”.
“Não
estamos diante de um problema entre governo e oposição. Aqui é um
problema muito mais grave. Estamos vivendo um processo político onde não
há mais limites, não há mais escrúpulos e não há mais referência do
respeito à opinião, do respeito à tribuna, com o respeito às mulheres e
às mulheres parlamentares”, enfatizou Jandira Feghali.
Às vésperas do Dia Internacional dos Direitos Humanos, 10 de dezembro, e
data da entrega do relatório da Comissão Nacional da Verdade sobre os
crimes da ditadura militar, que incluem violações, estupros e
assassinatos, a declaração do militar da reserva Bolsonaro revela uma
das faces mais cruéis da história recente do Brasil.
A ira de Bolsonaro deve-se ao fato da deputada Maria do Rosário, que foi
ministra dos Direitos Humanos, ter usado a tribuna do Congresso para
denunciar os crimes cometidos pela ditadura militar. A deputada
ressaltou o trabalho da Comissão da Verdade e chamou a ditadura militar
no Brasil (1964-1985) de vergonha absoluta: “O Brasil, ao longo do
último período, encontrou o seu próprio caminho para registrar a
memória, a verdade e o caminho da justiça, para de fato enfrentar o que
foi a vergonha absoluta da ditadura militar, a ditadura civil militar
brasileira. A ditadura teve os seus prepostos, teve homens e mulheres
também que se colocaram de joelhos diante dela para servirem ao
interesse da tortura, da morte, ao interesse de fazer o desaparecimento
forçado, o sequestro”, disse a parlamentar.
Ao velho estilo da ditadura militar, Bolsonaro começou a ofender a
deputada; “Não saia, não, Maria do Rosário. Fique aí. Fique aí, Maria do
Rosário. Há poucos dias você me chamou de estuprador no Salão Verde e
eu falei que eu não estuprava você, porque você não merece. Fique aqui
para ouvir. Dia Internacional dos Direitos Humanos. No Brasil, é o dia
internacional da vagabundagem. Os direitos humanos no Brasil só defendem
bandidos, estupradores, marginais, sequestradores e até corruptos. O
Dia Internacional dos Direitos Humanos no Brasil serve para isso. E isso
está na boca do povo na rua”, esbravejou.
Ato torpe
O líder do PT na Câmara, deputado Vicentinho (SP), repudiou também
rechaçou o discurso de Bolsonaro. “Hoje esse senhor cometeu mais um ato
torpe ao declarar que ‘não estuprava a deputada Maria do Rosário porque
ela não merece’”, disse Vicentinho. ]
Para o deputado, a conduta deixa transparecer que para Bolsonaro é
“admissível a ideia de assumir o papel de estuprador”, condicionada a
agressão ao “merecimento” da vítima, o que evidencia “a covardia que é
tão típica dos estupradores”.
Vicentinho ressalta ainda que “Bolsonaro é representante, no Parlamento,
de um outro estágio civilizatório: um que a sociedade brasileira
felizmente superou, mas que não está enterrado porque tem nesse senhor
sua cria, a destilar a grosseria, o ódio, o desrespeito e a violência
próprios dos tempos de barbárie”.
Para Vicentinho, o Dia Internacional dos Direitos Humanos é “um valor
estranho a esse senhor: tudo o que está em sua mente e em sua boca é
maldade e depravação, marcas indeléveis do regime de usurpadores e
torturadores que ele tanto defende”.
Outras instâncias
Parlamentares reafirmam que as declarações de Bolsonaro não ficarão
impunes. A deputada Iriny Lopes (PT-ES), vice-líder da bancada,
reiterou que ele será denunciado em instâncias além da Câmara dos
Deputados. “Vamos denunciar e pedir providências à polícia, ao
Ministério Público e ao Judiciário para penalizar o deputado Bolsonaro,
porque ele extrapolou a prerrogativa parlamentar de opinião para
agredir, intimidar uma deputada. E isso o Regimento Interno não o
protege. Vamos levar também para o Conselho de Ética da Casa, mas não é
suficiente. Queremos levá-lo aos tribunais”, enfatizou.
Para a deputada Manuela D´Ávila (PCdoB-RS), “quando Bolsonaro diz que
ele não estupraria Maria do Rosário porque ela não merece ser estuprada,
diz subliminarmente que algumas mulheres merecem e que ele é potencial
estuprador”.
Jandira também compartilha da mesma posição. “Esse Parlamento não pode
ter um estuprador dentro dos seus quadros, ou que se admita como tal, ou
que se reconheça como criminoso”, salientou.
Não é de hoje que Bolsonaro tem ultrajado a Câmara com agressões
machistas, homofóbicas e racistas. “Que o condenem por quebra de
decoro”, disse Gustavo Petta (PCdoB-SP) por meio de sua página no
Twitter.
O último pedido de representação contra o Bolsonaro pelo PCdoB foi no
dia 24 de setembro de 2013, quando ele foi acusado por ter agredido
membros da Comissão da Verdade da Câmara e do Senado e ter provocado
tumulto na antiga sede do DOI-Codi no Rio de Janeiro.
A coordenadora da bancada feminina na Câmara, Jô Moraes (PCdoB-MG),
afirma que é preciso alterar o Regimento do Conselho de Ética para
colocar um agravante à violência contra a mulher que representa a pior
das violências. “É persistente e insistente a trajetória de inúmeras
situações em que as mulheres são ofendidas, desde a Legislatura de 2006 e
2010, quando a deputada Cida Diogo foi agredida neste plenário; depois,
na Legislatura recente, quando a deputada Manuela D'Ávila foi agredida
na Comissão de Constituição e Justiça; quando a deputada Alice Portugal
foi agredida aqui; quando a Senadora Vanessa Grazziotin foi ofendida e
hoje quando a deputada Maria do Rosário foi ofendida”, enumerou a
deputada.
Petição nas redes
Nas redes sociais foi criada uma petição da Avazz pedindo a cassação de
Bolsonaro. “O deputado já tem em seus históricos agressões, xingamentos e
discursos de ódio contra deputados progressivos, não podemos mais
aceitar nenhum engavetamento. Isso é decoro parlamentar! Fora
Bolsonaro!", diz o texto.
Com informações das lideranças do PT e PCdoB
Fonte da Notícia: http://www.vermelho.org.br/noticia/255056-1
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